sábado, 29 de março de 2014

Carla

A doida revirou minha gaveta
abrindo cadernos,
procurando marcas
de batons escritas
e os detalhes 
de todos os seios.


Leu chorando
e eu não entendi.
Tive até receio...
Mais!
tive medo.


‘’Não procure aí, mulher!
Aqui estamos,
vivendo uma aventura
igualzinha a essas
escritas.’’,
eu disse.


E então ela me deixou.
Se foi chorando
e praguejando.


Acho que fui grosso.
Poxa, perdi Carla.

A Partida de Fernanda

Vai em dezembro
E já começa a chorar
Com medo de deixar o teu lugar
E de como os teus irão ficar.

Arrisco dizer que entendo
E que me acostumei,
Embora não queira que tu vá.

Quero que tu fique
Para que eu a veja sempre
E possamos nos ajudar.

Dezembro será choroso
e chuvoso, aqui
na terra maldita
embriagada.

Dezembro será diferente
Mudará tudo
Mas parte de você ficará aqui.
Estará lá e aqui
pra mim, pros teus
e pra você principalmente.

Não sairá de nossa memória
E dum lugarzinho que chamamos coração.
É lá onde se guardam pessoas especiais
Assim como você.

E tu voltará em breve,
tenho certeza disso
ou pelo menos prefiro acreditar.

Dezembro será chuvoso,
mas este Dezembro acabará.

quinta-feira, 20 de março de 2014

A Partida - Parte 3

Fui procurar o marinheiro.


Encontrei-o bebendo numa cabine de trabalhadores.
Entre os amigos me colocou,
anunciando que eu era especial, excelente.

Claro, bolei uma cara de pau envolvente
Logo quiseram saber das coisas que vivi.
Menti.
Menti para que me pagassem bebidas.


O tempo se vai e lá vai:
Mais mentiras sobre ais
Tiradas de romances literais.
Ninguém ali conhecia literatura
Por isso a bebida era cachaça
E cerveja. Aguada, mas era cerveja.


Primeiro o marinheiro,
Depois os companheiros...
Foram saindo da mesa
Carregados pelos garçons
Ou nos braços de alguma rapariga.

Recusei todas elas indo embora
Com um presente do marinheiro.

Não encontrei Glória àquela hora
Mas Bruna eu sabia onde achar
E fui exatamente pra lá.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Bruna (A Partida - Parte 2)

Acordei às dez, segundo o relógio da cabine.
Vesti uma camisa e saí com a tela suja,
levando também minha pequena caixa de vime.
Vi Bruna, entre um babaca e sua corja.


Bruna de poucos amores,
E sem quaisquer vestígios de dores
Me presenteou, em terra,
Com seu corpo
Em troca de uma aquarela.


Pedi a ela um cigarro.
Agradeci e dei as costas.


Acomodei a tela num canto
Sentei-me e corri um branco
Por cima da mancha amarela
Que até então sujava a tela.


Percebi que esse era um erro
Outro! Outro erro.


Comecei a desenhar
Deixando a mancha no mesmo lugar
Sem mexer, imaculada,
Assim como Gloria inabitada.

Tinha essa certeza sobre Gloria.

Glória (A Partida - Parte 1)

Sujei uma tela
Fazendo de tudo para não errar.


Conheci uma moça.


Chamava-se Gloria.
E deu inicio à história,
minha escória.


Nos conhecemos um pouco.
Soube do seu emprego,
De onde vem e o que vai fazer,
Mas me olhava,
Como quem mudara
De uma hora pra outra.
Não ia mais fazer.


Ela não bebia, não chorava,
não amava, não sentia:
não gostava de arte.


Eu era vendedor de imóveis.
Trouxe os quadros para um amigo
artista, famoso em São Paulo
- Menti.


“E com quem está viajando?”, curiosa
”Estou só. Preciso trabalhar.”
“São Paulo? É pra onde vai depois?”
“Não sei... Qualquer lugar.”
“E os quadros do seu amigo?”, apontando com desdém
“Dou a você, de presente.”
“Não pode fazer isso. Não quero”


Tola.

Ela parecia ser tola.

Tua Poesia

Quem dirá que estás errada?
Eu? Não!
Pobre se dissesse…

Simplicidade que até entristece
E me critica consternada.

Fico pasmo, boquiaberto;
As vezes me acho em teu verso
E é isso o que me mata.

É isso que me encanta,
Prendendo-me até o fim.

Pena a poesia ser curta assim.


Este texto foi escrito para Fernanda Letícia numa ''conversa'' - ou troca? - poética. Deixo o link do blog desta minha companheira. Peço que visitem e se gostarem, compartilhem!


http://ferletic.blogspot.com.br/

terça-feira, 11 de março de 2014

Versos Respostas

Feitos de cinza e de azul blue,
Com pedaços pecados, nu
Muita esperança inda me cabe
Mesmo que tudo isso acabe.

Escuto o alarde
E vejo que essa luta que arde
É tão numerosa
Quanto os erros escritos noutra prosa.

Aqui uso o verso.
Fosse desestruturado,
Mas naturado
- ao avesso.

Mil vozes se confundem,
Mas não ofuscam o meu grito.
Antes, os sons se colidem
E me encontro ainda mais aflito.

Não vem nenhum olhar,
Ninguém quer escutar,
Então faço calar,
Depois de me cansar.

Femininos são, por vezes
Meus olhares
Aprendidos com mulheres ímpares.

Pergunto: 
Entre o ter,
O dar
E o guardar.
Aonde queres ficar?